O diretor de Relações Institucionais da Holding J&F, Ricardo Saud, relatou, no anexo 36 de sua delação premiada, a ligação da JBS com o então candidato à Presidência da República pelo PSB, em 2014, Eduardo Campos. No depoimento, realizado no dia 5 de maio, na sede da Procuradoria-Geral da República, ele cita que o grupo empresarial tratou de recursos que seriam direcionados para a campanha de Eduardo Campos e demais candidatos socialistas naquele ano. “Não houve negociação nem promessa de ato de ofício. As doações oficiais para o PSB, tanto para o partido quanto para seus candidatos, totalizaram R$ 14,650 milhões”, informa o documento da delação. Os nomes do governador Paulo Câmara, então candidato ao Palácio do Campo das Princesas na ocasião, do prefeito do Recife, Geraldo Julio, e do senador Fernando Bezerra Coelho também são citados.
Além do PSB, Saud apresentou um documento com o balanço com números de partidos e políticos que teriam recebido recursos da JBS na campanha eleitoral de 2014. Segundo o executivo, foram 28 legendas e 1.829 candidatos. Desses, 179 foram eleitos deputados estaduais em 23 estados e 167 deputados federais de 19 partidos diferentes. Dezesseis governadores eleitos das seguintes siglas: 4 do PMBD e PSDB; 3 do PT e PSB; 1 do PP e PSD. Além disso, 28 senadores receberam recursos para campanhas naquele ano.
No início do depoimento, Saud narra como foi a aproximação com Eduardo Campos. “Ficamos muito empolgados com a candidatura de Eduardo Campos. Tivemos com ele em alguns jantares, algumas conversas, com Paulo Câmara, Geraldo Julio”, afirmou o delator, explicando que ficou acertado, inicialmente, que a JBS repassaria R$ 14.650.000 para a campanha de Eduardo, mas, de acordo com o crescimento nas pesquisas do socialistas, esses valores poderiam ser reajustados, aproximando-se da quantia que estaria sendo repassada ao então candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves.
A morte de Eduardo, em um acidente aéreo, em 13 de agosto, na cidade de Santos/SP, levou, segundo a delação de Saud, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, a procurá-lo para saber da manutenção do pagamento dos valores que tinha sido acertados anteriormente para a campanha e saber da possibilidade de incremento nessa quantia para a campanha de Paulo Câmara ao governo do estado. “Com a morte de Eduardo Campos, o Paulo Câmara, Geraldo Julio me procurou (sic). Procurou e disse: ‘olha cara, temos que honrar aí, temos que organizar isso porque precisamos ganhar a eleição aqui agora, em Pernambuco, em homenagem a Eduardo Campos, o Paulo Câmara está aí para ganhar’”, disse o delator, que teria respondido o seguinte: “O que nos comprometemos, que é os 14 (sic), nós vamos pagar. O resto a gente não paga mais nada”, disse o delator. Porém, após dialogarem, concordaram em fazer uma contribuição adicional à campanha de Paulo Câmara para não prejudicar o candidato socialista.
Socialistas rebatem delação
Em resposta à delação do executivo Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da Holding J&F, o prefeitos do Recife, Geraldo Julio, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o senador Fernando Bezerra Coelho, todos do PSB, divulgaram notas oficiais, na noite desta sexta-feira. “Diante da menção ao seu nome por um dos delatores da JBS, divulgada hoje pela imprensa, o prefeito Geraldo Julio repudia veementemente as acusações e esclarece que nunca tratou de recursos ilegais com essa empresa ou com qualquer outra. O próprio documento divulgado pela Justiça, registra que as doações feitas à campanha nacional do PSB não foram por troca de favores. Todas as doações recebidas pelo partido foram legais”, diz o texto de Geraldo Julio.
O governador Paulo Câmara também se manifestou por nota. “Venho repudiar, veementemente, a exploração política do depoimento do delator Ricardo Saud, que, já antecipo, não corresponde à verdade. Não recebi doação da JBS de nenhuma forma. Nunca solicitei e nem recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores. Tenho uma vida dedicada ao serviço público. Sou um homem de classe média, que vivo do meu salário. Como comprovará quem se der ao trabalho de ler o documento que sintetiza a delação, o próprio delator afirma (no anexo 36, folhas 72 e 73) que nas doações feitas ao PSB Nacional ‘não houve negociação nem promessa de ato de ofício’, o que significa que jamais houve qualquer compromisso de troca de favores ou benefícios.
Desta forma, é completamente descabido o uso de expressões como ‘propina’ ou ‘pagamento’. Reafirmo a Pernambuco e ao Brasil que todas as doações para a minha campanha foram feitas na forma da lei, registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
Ainda de acordo com o executivo da JBS, Ricardo Saud, o senador Fernando Bezerra Coelho foi beneficiado com as negociações. “Essa nota fiscal aqui de R$ 1 milhão foi para ele”, explicou o delator. O senador Fernando Bezerra Coelho emitiu uma nota, na noite desta sexta-feira, negando o envolvimento. “A defesa do senador, representada pelo advogado André Luiz Callegari, afirma que todas as doações para a campanha de Fernando Bezerra Coelho ao Senado foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. A defesa do parlamentar, que não teve acessos aos referidos autos, repudia as declarações unilaterais divulgadas e ratifica que elas não correspondem à verdade”, diz o comunicado.
Informações Diário de Pernambuco
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